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por Paiva

Feb 09 • 2 min read

online > distração > offline 👋


o futuro é offline

E tem endereço certo e selo colado na ponta direita.

Fevereiro trouxe uma enxurrada de envelopes para a minha mesa em Vancouver.

Cada um deles — que já tem nome e cidade de destino como Gravataí, Alto Caparaó, Querência, Viamão — parece um pedaço geográfico do Brasil que agora habita meu cantinho canadense.

Tive que fechar o formulário porque 127 mãos escreveram pedindo pausa.

Na verdade não foram pedidos. Foram SOS disfarçados.

A pergunta que mais repete é uma só:

"Paiva, como escapar do modo automático?"

Não me surpreende.

O modo automático não se sustenta sem distração. O tempo todo somos engolidos por alertas, feeds, mensagens às 22h.

Mas as cartas... Ah, as cartas são diferentes.

Elas não tem botão de edição. Não permitem Ctrl+Z, delete. Cada vírgula é um compromisso.

e dá muito trabalho

Mas um trabalho gostoso.

Um trabalho que traz desgaste físico, não mental. Meu punho chorou de tanto escrever no final do dia.

Mas por falta de costume de escrever. Que ironia, não é mesmo?

Gostoso também por que, na minha cabeça, isso não está sendo consultoria.

Estou levando isso como uma arqueologia das prioridades.

Um processo de escavação e descoberta. O desafio é desenterrar, entender e organizar. Ter mais clareza do seu cotidiano.

E enquanto escrevo cada carta — com caneta e letra bem redonda — percebo uma coisa:

Estamos todos cansados de ser interrompidos por notificações e sedentos por notações.

o futuro é offline?

Não é sobre apagar contas, aplicativos ou virar eremita.

É sobre o que aconteceu e vai acontecer aqui, nessa troca de cartas:

Tempo de espera entre escrever e receber resposta (dias que se tornam antídotos contra a ansiedade).

Tato nas folhas entre os dedos (o papel A4 mais cru vira pergaminho sagrado).

Incomodidade de errar uma palavra e ter que riscar (em vez de apertar delete ou Ctrl+Z.

uma frase

Enquanto preparo as respostas — com um tempo de descanso entre uma e outra — deixo um desafio pra você:

Hoje, antes de abrir qualquer aplicativo, escreva uma frase à mão. Qualquer uma.

Seja no verso de uma conta de luz, num post-it, ou até no seu braço. Não importa.

O que vale é a pausa necessária entre pensar e registrar.

O Brasil que está a espera das minhas cartas (que honra, Brasil!), de Picos a Viamão, não quer dicas de produtividade.

Quer permissão para desacelerar!

E eu? Sou apenas um mensageiro das minhas e das suas próprias descobertas.

Com tinta preta e letra miúda.

Até semana que vem :)

P.S.: O formulário reabre em março. Até lá, sugiro: compre um bloquinho de papel cavalinho. Escreva para seu vizinho de porta. A revolução mais urgente é a que acontece dentro do mesmo CEP.

Vancouver, BC - Canadá
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