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por Paiva

Aug 03 • 2 min read

o que o feed roubou de você (e você nem percebeu)


ainda lembra do que veio fazer aqui?

Na terça-feira, eu fugi de casa.

Deixei o laptop aberto. Notas espalhadas. LinkedIn me olhando com cara de “só falta você”.

“Aplique logo pra mais vagas.”
“Mas o que eu quero da vida realmente?”
“Só mais um video antes de começar.”

Era essa a batalha na minha mente. Mas eu fugi mesmo assim.

Coloquei um short qualquer, enfiei a guia na Twiggy e desci pro quarteirão.

Sem podcast. Sem desculpa. Só o barulho dos meus passos abafados no asfalto quase derretendo de tanto calor...

e a sensação de estar traindo algo em mim.

Porque, veja bem, eu tinha um plano.

Fazer uma coisa só. Pequena. Mas com intenção.

Qualquer coisa que não fosse apenas consumo, rolagem, resposta.

Mas eu fugi.

o desejo que não cabe num like

Anos atrás, o poeta David Whyte fez uma promessa a si mesmo.

Antes de tentar viver de poesia, ele faria uma coisa por dia, durante um ano, que o aproximasse dessa vida.

Um e-mail para uma revista. Um poema memorizado. Uma palestra ensaiada em voz baixa, sem plateia. Uma tentativa qualquer, contanto que fosse consciente.

“Em um ano,” ele disse, “isso vira 365 contribuições. E isso constrói atenção.”

Ele não sabia se daria certo. Mas seguiu mesmo assim.

e se você travasse justo na sua vez?


Depois daquele ano, o convite veio: falar numa conferência no Asilomar Center, na Califórnia, nos Estados Unidos.

Exatamente o tipo de oportunidade que ele sonhava.

E foi aí que veio o medo real:

“Quem você seria se fracassasse agora? Se recebesse a chance de ser o poeta que sempre quis ser… e não conseguisse?”

O medo não era poético. Era físico. Whyte desabou.

Não conseguia sair da cama por dias. Na noite anterior à palestra, não teve forças para ensaiar.

Na manhã seguinte, foi levado de carro até o centro de conferência.

“Me senti como se estivesse indo para um pelotão de fuzilamento de 600 pessoas.”

Mas quando pisou no palco, alguma coisa mudou.

Todos os sintomas desapareceram. Sua memória estava impecável. Ele entrou num estado de presença feroz.

E no final, recebeu uma ovação de pé. Foi nesse instante que ele entendeu:

“Achamos que é a pessoa que somos hoje que vai realizar o impossível. Mas não é. É a pessoa que está emergindo do que fazemos agora.”

ninguém vai construir seu eu do futuro por você


É por isso que eu voltei.

Subi. Sentei. Abri meu laptop. Fechei meu Linkedin e joguei meu currículo fora. Mesmo depois de 8 meses desempregado.

Uma atitude meio impulsiva, meio café forte, meio real, meio jeito torto de dizer:

“Eu ainda quero.”

o que você pode fazer hoje que o seu futuro vai te agradecer?


Na história, Whyte foi salvo pelo seu eu do passado.

Henrik Karlsson, outro escritor, descreveu isso com uma imagem linda.

Anos depois de ter escrito seus primeiros textos solitários numa biblioteca, ele voltou ao mesmo lugar.

“A sensação de que meu eu anterior ainda estava ali era tão forte que puxei a cadeira ao lado "dele" e me sentei.”

Ele olhou para aquele jovem derrotado, cansado, insistente e agradeceu.

Em voz alta.

“Se você soubesse o quanto sou grato por tudo que você fez…”

E então percebeu que havia uma terceira cadeira. Vazia.

A cadeira do seu futuro.

E se você se sentasse nela hoje?

E se, entre o scroll e o silêncio…
entre um café e uma folha…

você fizesse alguma coisa

que ninguém vai aplaudir agora,
mas que alguém, um dia,
vai te agradecer profundamente por ter feito?

Esse e-mail termina aqui. O resto, é seu.

Vancouver, BC - Canadá
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por Paiva


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