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por Paiva

Aug 10 • 2 min read

quando o celular paga mais que trabalhar 🥵


atenção não é só moeda

Na terça-feira, um amigo postou no Instagram um vídeo de 12 segundos.

Ele estava na cozinha, fritando um ovo.

Só que parecia cena de filme:

frigideira brilhando, azeite escorrendo em câmera lenta, legenda chique, música francesa que dava vontade de acender um cigarro imaginário.

E eu fiquei pensando:

quantas vezes ele repetiu isso pra ficar assim?

Foi aí que percebi: não era sobre o ovo. Era sobre quem ia parar o dedo no meio do scroll pra ver o ovo.

A gente fala de atenção como se fosse uma coisa solta no ar. Mas não é.

Atenção é moeda. E a cotação muda todo dia.

Hoje, não basta ter um bom produto, ou um bom trabalho, ou uma boa ideia.

Você precisa transformar isso em algo que capture olhares antes mesmo de entregar valor.

E, às vezes, a atenção é o valor.

e quando sua atenção vai embora?

Semana passada, uma marca de roupa ganhou 200 milhões de dólares em valor de mercado em um único dia.

Não porque vendeu mais.

Mas porque lançou um comercial com uma atriz que as pessoas amam ou odeiam e deixou cada espectador inventar a própria história.

O anúncio virou meme. O meme virou notícia. A notícia virou dinheiro.

No artigo que li do Scott Galloway, professor de marketing e investidor que fala de tecnologia com a sutileza de um chute na porta, ele chamou isso de singularidade da atenção.

Um ponto onde poder, narrativa e dinheiro se retroalimentam tão rápido que distorcem a própria realidade.

Ele cita o caso do Trumpcoin: um token criado por Donald Trump lançado dias antes de sua posse que gerou, no papel, 60 bilhões de dólares em menos de 72 horas.

Sem fábrica, sem logística, sem produto. Só narrativa.

Atenção > Dinheiro. Direto, sem escalas.

E aí vem a parte que me pega...

Quando a atenção vira o recurso mais escasso, tudo começa a se organizar em função dela.

Inclusive a vida de quem está começando agora.

Os jovens.

em que lado você está?


Os jovens de hoje vivem uma espécie de estratégia de barra.

  • De um lado, quem foge da dívida e escolhe trabalhos manuais ou técnicos. Estabilidade no meio do terremoto.
  • Do outro, quem aposta tudo no digital. Criador de conteúdo, moeda virtual, Inteligência Artificial.


O caminho do meio? Cada vez mais estreito, quase um fio de arame.

E tudo isso acontece dentro de plataformas que privatizaram a comunicação e as otimizaram para engajamento, não para entendimento.

Elas não precisam que você aprenda. Precisam que você continue olhando.

será que somos vítimas mesmo?

Eu sei que parece exagero, mas é só olhar ao redor.

Quantos debates já não viraram só uma troca de frases prontas que vimos em vídeos de 15 segundos?

Quantas vezes você já não se pegou “informado” sobre algo, mas incapaz de explicar por quê?

Scott fala que os jovens não são vítimas passivas. Eles estão reagindo e moldando o jogo também.

E é verdade.

Mas me pergunto se, nessa adaptação, não estamos também nos acostumando demais com a ideia de que narrativa basta.

Talvez a pergunta não seja “como escapar da economia da atenção”.

Mas “o que vamos deixar de construir” se aceitarmos que ela é suficiente.

Porque atenção é como oxigênio: você só percebe quando começa a faltar.

E quando faltar… não vai ter anúncio, like ou meme que compre o fôlego de volta.

Esse e-mail termina aqui. O resto, é seu.

Vancouver, BC - Canadá
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por Paiva


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