o peso da caneta
Hoje eu travei.
Não de um jeito romântico tampouco poético.
De um jeito irritante mesmo. Do tipo que te faz duvidar se ainda sabe escrever.
Fiquei ali, com a tela branca do Notion na cara, como quem espera um elevador que não vem.
E pior: eu sabia o que eu queria dizer. Mas as palavras, quando digitadas, pareciam ralas, leves demais pra segurar uma ideia.
Foi quando levantei, peguei um caderno velho, e escrevi.
Do jeito mais analógico possível. Com pressa. Com raiva. Com aquela letra que nem eu mesmo entendo direito.
E funcionou!
o gesto faz a ideia
Tem gente que chama isso de ritual.
Tem gente que chama isso de burrice, perda de tempo.
"Vai acabar digitando depois de qualquer forma mesmo, ué."
Mas ali, no atrito do papel, alguma coisa assentou.
Como se o corpo dissesse à cabeça:
"Calma, deixa que eu te levo."
Essa semana li um texto da NPR - National Public Radio, uma rede pública de rádio independente dos Estados Unidos.
E eles explicaram porque isso funcionou comigo:
"Escrever à mão aciona mais partes do seu cérebro. Coordena visão, tato, memória, movimento."
É como se cada letra fosse um ensaio de presença. E o pensamento, finalmente, se sentisse acolhido.
a lentidão como filtro
Escrever à mão não é sobre ser vintage. É sobre ser seletivo.
Porque quando a gente digita, a gente despeja. Mas quando escreve, a gente escolhe.
Cada palavra custa. Cada pausa tem um peso. Um peso diferente.
E aí, no meio do rabisco, você encontra um recado. Um esboço. Um começo. Algo que só apareceu porque você parou.
isso não é nostalgia
Van Neistat fala muito de gesto com alma.
De fazer com as mãos, mesmo que saia torto. De construir significado no atrito.
É isso. É ISSO!
Não se trata de largar o teclado. Mas de lembrar que clareza também é toque.
E que talvez... a resposta que você procura não esteja na próxima aba do Chrome.
Esteja num papel amassado, com cheiro de café, e um começo de frase escrito torto no canto da página.
escreva algo hoje
Não estou aqui pra demonizar as redes sociais.
Eu uso, eu gosto, eu sei que fazem parte da vida hoje.
Mas também sei que a gente não é feito de algoritmo.
Somos feito de calos, cicatrizes, nervos.
E pequenos gestos, como escrever à mão, lembra a gente disso.
Então escreva algo hoje.
Não pra ser bonito. Ou certo. Ou útil.
Escreva pra ver se ainda é você aí dentro. Escreva devagar, pra ver o que sai e o que fica.
Escreva como quem acende uma luz pequena, só pra clarear o suficiente.
Esse email termina aqui. O resto, é seu.
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